Bikepacking de Florianópolis a Urubici

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Pausa para as pessoas e as coisas

A noite anterior na Usina não tinha sido muito tranquila e achei a garagem muito próxima da rua, o barulho iria nos incomodar e mais uma noite ruim teríamos. Deixamos o Daniel deitado no banco na frente do bar e saímos para uma busca mais atenta nos arredores. Encontramos ao lado do campo de futebol um lugar legal para dormir. Avisamos o pessoal do bar e para lá fomos. Enquanto ajeitávamos as coisas para nos estabelecer a luz do segundo dia de pedalada foi minguando, as árvores nos morros foram ficando mais escuras, a névoa desceu das montanhas, os animais voltaram para suas baias e potreiros, a luz do cemitério acendeu e uma chuva fina caía. Já acomodados, tomamos um banho de garrafa mesmo e preparamos a janta. O Daniel se medicou e foi deitar meio febril para o merecido descanso. Sobre os acontecimentos do dia ficamos conversando enquanto repassávamos a comida sob a luz das lanternas de cabeça. Vivemos intensamente dois dias de pedalada, um em terreno novo. Fizemos juntos algumas escolhas, acertamos e erramos e o resultado era o que vivíamos agora, nada mal para uns amadores.

Amanheceu chovendo e o Daniel nada bem. Durante a noite fiquei sem o isolante inflável, furado de novo. Dormi um pouco melhor com a barraca montada sobre uns cinco bancos de madeira, pelo menos não tinha a umidade do chão. Decidimos por isso, ficar por ali mais um dia pra ver no que dava. Fizemos uma busca na cidade por medicamentos e condições para atender nosso amigo e o resultado foram alguns comprimidos para gripe doados pela dona Mafalda. Posto de saúde só em Grão Pará ou Urubici. O dia passou rápido em Aiurê, revisei o meu colchão que furava quando eu enchia para ver onde estavam os furos. Secamos as coisas, buscamos água e comida para mais uma noite. Depois de mais algumas horas trabalhando nos reparos do colchão cheguei à conclusão de que ele já era. Estava se descolando nas soldas por causa do envelhecimento do material. Depois de seis anos, nossas aventuras juntos terminaram. O Daniel passou o dia na barraca deitado, se hidratando, se medicando e comendo pouco.

Um pouco antes de anoitecer um grupo veio jogar bola no ginásio perto de onde estávamos, mas logo foram embora e uma calma e fria noite nos envolveu. Acordei de madrugada para fazer uma sopa para o Dani e logo amanheceu. Acordamos e fomos recolhendo as coisas para mais um dia de aventuras, desta vez na Serra do Corvo Branco que eu pensava há tempos em subir. Com tudo pronto, café da manhã tomado, o Daniel se animou e partimos para a vida sobre nossas bicicletas. No bar da Dona Mafalda decidimos chamar um táxi para o Daniel ir até Urubici. Pensamos em fazer isso porque no caminho teríamos menos recursos caso ele piorasse e precisasse de ajuda, já que ele não estava se sentindo 100%. O táxi chegou e desmontamos a bike dele para pôr no veículo que logo em seguida partiu rumo a Urubici.

Entre Aiurê e o Corvo Branco

4 Responses

  1. Fernando Morado

    Belo relato, você tem talento para escrever. Comecei no pedal e fiz, em junho, Santana do Riacho/Diamantina e em seguida Diamantina/Ouro Preto (Estrada Real, Caminho dos Diamantes). 650 km de muita subida, cascalho, sozinho e aos 59 anos. Faltam os trechos de Ouro Preto a Paraty (Caminho Velho) e Ouro Preto a Petrópolis (Caminho Novo), que devo percorrer no final de agosto. Após, pretendo encarar estas belezas da sua região, que já conheci de carro há bastante tempo.
    Abraços,
    Fernando Morado
    @moradopenna

    • aresta

      Oi Fernando, bom dia. Que bom que tu gostou do texto, escreva sua história também. Quando vier para pedalar por aqui avisa antes que se for possível vamos juntos ou te dou umas dicas dos lugares que já fui. Abraço luciano

  2. Fernando

    Olá Luciano, realizei o trecho da Estrada Real Ouro Preto/Paraty, +/- 700 km, também sozinho. Agora estou planejando ir para o sul. Vamos ver. Abs.

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