Bikepacking de Florianópolis a Urubici

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Naves leves e silenciosas na serra

Saímos eu e o Giovani lá pelas 10 da manhã e logo de cara uma daquelas subidas, mas estávamos descansados e devagar ela ficou para trás. Encontramos no caminho um pessoal cortando pinheiros e um deles veio conversar com a gente para saber de onde vínhamos, ele nos ajudou a identificar alguns lugares na serra logo ali na nossa frente. Tiramos algumas fotos e o asfalto terminou no mata-burro depois de 9 km. Mais fotos, a paisagem é incrível mesmo, uma maçã para cada um e toca pra cima. O primeiro pique da serra foi bem difícil para mim, era bem empinado, depois que passei por este trecho fiz mais uma ou duas curvas e parei para respirar e descansar. Tinha bastante movimento de motos, carros e caminhões na serra.

Aos pés do Corvo Branco

 

O mais complicado era passar pelos caminhões, no entanto os motoristas colaboravam diminuindo a velocidade ao máximo até que encontrássemos um espaço para sair da frente deles enquanto eles desciam. Eu ganhei até uma maçã de caminhoneiro que descia a serra. Por outro lado os motoristas dos carros complicavam mais as coisas, talvez por inexperiência mesmo em conduzir naquelas condições não deixavam nem um ladinho para que pudéssemos passar, apesar de serem menores que os caminhões. A paisagem compensava tudo, era muito legal estar ali e ainda conseguir subir pedalando.

À medida que subíamos um ar mais frio apareceu e uma chuva fina também. Subindo devagar com a bicicleta dava para ver bem os cortes nas rochas, os desmoronamentos novos e os velhos, os detalhes dos penhascos e dos desfiladeiros. Pude perceber que a força e o empenho das pessoas construiu aquela estrada na serra e mudou a paisagem, mas a natureza silenciosa e meticulosamente retoma, em cada pedra que cai, em cada córrego que desce, o seu domínio. Quem sabe se um dia apenas veículos mais evoluídos passem por ali, naves mais leves, silenciosas e movidas por corações fortes. Sim, eu já disse antes, tudo termina um dia e assim foi com aquela serra também. Quando chegamos lá em cima depois do corte na rocha tinha muita gente, pastel, cerveja e refrigerante. Fiquei feliz, emocionado e agradecido por ter conseguido chegar até ali com minhas pernas, por estar bem de saúde e nada doendo. Troquei de camisa e colocamos os anoraks, estava meio frio.

Mais alguns quilômetros de terra e depois um pouco de asfalto e chegamos em Urubici com sol e vento a favor lá pelas 15 horas. Procuramos pelo Daniel e usamos o wifi de uma padaria para mandar mensagens, mas nada. Depois de um lanche partimos para a rodoviária para tentar a sorte. No início nosso roteiro incluía um dia para pedalar para o cânion Espraiado e ficar lá uma noite. Como ficamos uma noite a mais em Aiurê e eu não tinha mais um isolante para dormir, decidimos deixar para outra vez e ter mais um bom motivo para fazer tudo novamente. Na rodoviária descobrimos que o ônibus levaria nossas bicicletas, e que faltavam 15 minutos para ele chegar. Quando a moça nos entregou as passagens o ônibus estacionou. O motorista nos tratou muito bem e nossas bicicletas foram tratadas como nossa bagagem, tivemos apenas que tirar as rodas dianteiras e prendê-las junto da estrutura do bagageiro, por recomendação do motorista para que elas não estragassem. Quatro horas depois estávamos em Florianópolis montando as bicicletas na rodoviária para voltar para casa.

4 Responses

  1. Fernando Morado

    Belo relato, você tem talento para escrever. Comecei no pedal e fiz, em junho, Santana do Riacho/Diamantina e em seguida Diamantina/Ouro Preto (Estrada Real, Caminho dos Diamantes). 650 km de muita subida, cascalho, sozinho e aos 59 anos. Faltam os trechos de Ouro Preto a Paraty (Caminho Velho) e Ouro Preto a Petrópolis (Caminho Novo), que devo percorrer no final de agosto. Após, pretendo encarar estas belezas da sua região, que já conheci de carro há bastante tempo.
    Abraços,
    Fernando Morado
    @moradopenna

    • aresta

      Oi Fernando, bom dia. Que bom que tu gostou do texto, escreva sua história também. Quando vier para pedalar por aqui avisa antes que se for possível vamos juntos ou te dou umas dicas dos lugares que já fui. Abraço luciano

  2. Fernando

    Olá Luciano, realizei o trecho da Estrada Real Ouro Preto/Paraty, +/- 700 km, também sozinho. Agora estou planejando ir para o sul. Vamos ver. Abs.

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