Bikepacking de Florianópolis a Urubici

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Engolindo o coração

Partimos porque tínhamos de partir ou ficaríamos ali para sempre com nossos estimados amigos. Mal passamos a ponte sobre o rio e a saudade do bar já nos castigava, mas aventuras incríveis nos esperavam e mais à frente um caminho novo para os três ciclistas. Após 4 km pela estrada geral do Rio dos Índios uma placa indicava Rio dos Bugres 9 km à esquerda, viramos e logo após uma estrebaria, outra placa propunha virar à direita para o mesmo destino. Por ali a estrada foi se aproximando do céu azul, rodeada por eucaliptos, enquanto eu cambiava a última marcha mais leve que tinha, 22×32 e não pede mais por que não tem. Rodeado por eucaliptos que balançavam ao vento eu pensei por que estava ali pedalando. Se era pelo destino ou por uma série de escolhas erradas ou certas, bom, pelo menos pude escolher. Mais uma vez no alto de algum lugar, engolindo o coração de volta para saber que o caminho leva de novo para baixo, mas agora com velocidade.

Rio dos Bugres

 

Tudo de novo mais umas vezes até pararmos antes de mais uma daquelas. Esticamos as pernas na sombra do arvoredo nativo, um carro passou, o motorista cumprimentou. Giovani constatou o pneu traseiro furado, ufa, vamos ficar parados mais um pouco ao lado do rio, fazer o quê. Gosto muito de levar umas bananas em passas para comer no trecho, elas levam vantagem sobre os chocolates que derretem facilmente. O aspecto dos dois é desestimulante ao paladar, porém. Alguém iniciado nas viagens de bicicleta sabe que desfrutamos do melhor do caminho indo desta forma. Quando paramos para descansar aproveitamos mais os lugares escolhidos, temos tempo para uma digestão mais lenta de tudo que vemos e sentimos. Reiniciamos quase renovados subindo a estrada para variar. Lá em cima paramos para pedir informações detalhadas, porque nosso GéPiS precisava ser orientado.

Esquecemos de pedir água nesta parada e mais à frente paramos para confirmar novamente as informações antes recebidas e desta vez pedir água. Ela veio gentilmente gelada, muito gelada e com ela um sorriso que criou mais três. Como não admirar esta condição de simplicidade em que nos mantemos ao andar por aí nestes veículos incríveis. Passem a ponte e não virem à direita na primeira, vão em frente e subam pela esquerda, disse o cavalheiro. Acordamos alguns suínos da espécie gigante que dormiam ao lado da estrada, um susto nosso e deles e disputamos uma carreira rápida onde nós perdemos por mais de corpo e meio. Uma nova bifurcação e seguimos para Rio Chapéu e numa outra viramos para a esquerda para Capoeirão. Mais um pouco em frente viramos para a esquerda, mais 3 km de terra até o asfalto para Aiurê e depois pelo asfalto mais 4,3 km. A chuva veio novamente para molhar o chão, as árvores, os bichos e os ciclistas impregnados pela paisagem.

Paramos para esperar sob o telhado de um galpão em construção ao lado da estrada, onde tinha outro galpão para ordenhar as vacas que estavam pastando perto. A chuva deu uma trégua e as rodas giraram novamente, cruzamos a ponte para o outro lado e pelo asfalto até o bar da Dona Mafalda. No acolhimento celestial de mais um bar, este ainda pintado de azul claro por dentro, começamos a perguntar discretamente por um lugar para o pernoite de graça, sempre. Nós todos precisávamos de um lugar para descansar, mas o Daniel sentiu bastante o pedal do dia e precisava mais. Depois de algumas cocas e salgadinhos nenhum dos vizinhos tinha como nos acolher, o marido da dona Mafalda nos ofereceu sua garagem ao lado do bar.

4 Responses

  1. Fernando Morado

    Belo relato, você tem talento para escrever. Comecei no pedal e fiz, em junho, Santana do Riacho/Diamantina e em seguida Diamantina/Ouro Preto (Estrada Real, Caminho dos Diamantes). 650 km de muita subida, cascalho, sozinho e aos 59 anos. Faltam os trechos de Ouro Preto a Paraty (Caminho Velho) e Ouro Preto a Petrópolis (Caminho Novo), que devo percorrer no final de agosto. Após, pretendo encarar estas belezas da sua região, que já conheci de carro há bastante tempo.
    Abraços,
    Fernando Morado
    @moradopenna

    • aresta

      Oi Fernando, bom dia. Que bom que tu gostou do texto, escreva sua história também. Quando vier para pedalar por aqui avisa antes que se for possível vamos juntos ou te dou umas dicas dos lugares que já fui. Abraço luciano

  2. Fernando

    Olá Luciano, realizei o trecho da Estrada Real Ouro Preto/Paraty, +/- 700 km, também sozinho. Agora estou planejando ir para o sul. Vamos ver. Abs.

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